
"Portugal não é um Estado de direito". Ao menos é o que pensa o eurodeputado Dr. Paulo Rangel.
Não é novidade para qualquer cidadão mais atento que em Portugal "somos todos iguais", porém "uns são mais iguais do que outros". As desigualdades sociais e económicas são cada vez mais profundas na sociedade portuguesa. O alargamento do foço que separa os mais ricos dos mais pobres em terras lusitanas está exposto aos olhos do mundo. Uma economia frágil, uma taxa de desemprego galopante, um sistema de saúde que nem de longe pode ser comparado aos sistemas de saúde dos vizinhos europeus, tamanha as suas limitações estruturais, uma educação que não prepara os jovens para a vida activa e para atender às demandas reais do mercado laboral (antes pelo contrário), pálidos projectos sociais que não conseguem responder às necessidades mais básicas da população (aqui podemos citar a condição e a qualidade de vida do idoso, a falta de mais creches públicas, e a lista continua), um mercado de trabalho corrupto, onde multinacionais e empresas de outsourcing dominam e exploram os empregados, oferecendo-lhes vínculos perigosamente precários e estimulando a prática de falsos recibos verdes, casos de corrupção que nunca chegam às vias finais da justiça e, para completar, uma imprensa amordaçada. Ei-lo! O "quadro da terra de Camões".
Sim. O eurodeputado não mentiu. Suas preocupações são justas.
Porém, meus caros, uma coisa é lavarmos a roupa suja em casa e resolvermos os nossos problemas internamente, como, por exemplo, através do incentivo à participação activa da sociedade civil nos assuntos que dizem respeito ao Estado. Aliás, o activismo político deveria ser um dever de qualquer cidadão consciente, responsável e engajado nos processos de transformação políticos, culturais e sociais do seu país. O que não consigo compreender é por qual razão um político que tem o dever de representar os interesses de Portugal junto à União Europeia iria deliberadamente expor aos olhos críticos do mundo assuntos internos altamente negativos para a imagem do país. E, pior, fazê-lo de forma tão descuidada e infeliz, justo num momento em que Portugal mais precisa atrair investimentos externos e reafirmar-se como um país minimamente credível aos olhos de potenciais investidores. Eu me pergunto: quem em sã consciência irá investir num país cujo um de seus representantes afirma em alto e bom som que o "seu país não é um Estado de direito"?
Vejam bem, meus amigos, enquanto a economia espanhola foi duramente criticada em palco aberto, o Primeiro-ministro espanhol tratou logo de afirmar em Davos: "Somos um país sério e cumpriremos os nossos compromissos". Note-se, por oportuno, que esse é um discurso comum também da parte dos eurodeputados espanhóis.
E o que fez um dos nossos eurodeputados? Deu um tiro no agonizante Portugal. Pobre Portugal! Descanse em paz! Você certamente será esquecido.
Quem sabe se os nossos políticos fizessem o seu trabalho como deve ser feito, não visando promoção própria e, ainda, se nós enquanto sociedade civil fossemos mais participativos e atentos ao que fazem e dizem os nossos políticos cá dentro e lá fora, Portugal fosse levado mais à sério?!...