Em tempos de crise, quando o próprio "sistema" pelo qual nos regemos todos se torna o nosso maior carrasco, há que se encontrar formas de resistir a maré e chegar a terra firme são e salvo.
Em tempos de desaceleração da riqueza e escassez de recursos econômicos as pessoas tornam-se ainda mais manipuláveis, o assistencialismo vira uma constante, os "especialistas" procuram encontrar a raíz do mal e quase sempre chegam a "brilhante" dedução de que a "culpa" é "efectivamente" do outro... país, governo, organizações internacionais, multinacionais, dos imigrantes, etc etc etc. De facto, todos, de alguma forma, têm a sua cota de culpa activa ou passiva. Entretanto, ninguém, a meu ver, é mais responsável por tudo o que está acontecendo do que "nós", a grande massa, o povo.
Daqui, dos nossos mundinhos medíocres, a vivermos de aparências, em meio a carros importados, televisores de plasma, viagens, roupas mais caras do que os nossos bolsos e gadgets de ponta, tudo, claro, convenientemente bancado pelos cartões de crédito e avultosos empréstimos bancários pagos em prestações a perder de vista, cegos convictos, decidimos deliberadamente ignorar o sofrimento do próximo e a gritante privação dos principais meios de subsistência do outro. Somos 100% coniventes com o sistema e responsáveis por esta e todas as crises que nos assolaram no passado, e que ainda hão de nos assolar no futuro se não mudarmos o nosso modus operandi, a nossa mentalidade pequeno-burguesa.
Você, eu e todos somos carrascos de nós próprios.
De quanto tempo mais precisaremos para entender que este sistema é insustentável tal como vem operando?
As pessoas parecem não perceber que os desastres não acontecem apenas na vida do "outro" e que as contas da miséria do mundo podem bater às suas portas a qualquer minuto. Ninguém está a salvo disso.
Sinto-me cansada, profundamente exaurida. Já aos trinta e tal anos os sonhos de um mundo melhor esvaem-se-me do coração e da alma. Quando era pequena ouvia sempre na escola: "vocês são o futuro e construirão um mundo mais justo". Hoje me pergunto se o passado que encarna o presente ainda terá chance de modificar o futuro. Quantos futuros serão necessários para modificar o mundo?